Programa Nacional Vilas do Milénio
Contextualização
O Programa Nacional Vilas do Milénio (PNVM) é um modelo de desenvolvimento comunitário integrado baseado no uso de abordagens de investigação, transferência de tecnologias e inovações, que aliado aos saberes locais promove o desenvolvimento sócio-económico das comunidades em desvantagem.
Ora, por Vila de Milénio entende-se como um espaço geográfico criteriosamente selecionado para a organização da comunidade carenciada, nela residente, de modo a beneficiar-se de tecnologias e inovações, facilidades em infraestruturas sociais e entre outros serviços.
A concepção deste Programa inspirou-se nos aspectos positivos de dois (2) conceitos de desenvolvimento comunitário, designadamente: (i) Aldeias Comunais e (ii) Millennium Village (Aldeias do Milénio) concebido pelo Professor Jefrey Sachs do Earth Institute da Universidade de Columbia nos EUA.
Dentre os aspectos positivos do conceito Aldeias Comunais destaca-se a agregação e organização das massas populares, de modo a garantir o maior acesso a infra-estruturas sociais, maior contenção das despesas públicas e controle de doenças endémicas. Neste contexto, a aldeia comunal, foi a base fundamental do desenvolvimento rural, como forma de organização das comunidades, como solução para contornar a localização dispersa e isolada, permitindo assim a participação activa das massas na transformação das suas próprias vidas e na gestão do seu próprio destino.
Enquanto o conceito Aldeias do Milénio focalizava-se na materialização dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM) e a promoção da segurança humana nas zonas rurais desfavorecidas, através de investimentos baseados nas comunidades e da capacitação destas. Além disso, este conceito reconhecia os esforços dos governos nacionais na materialização dos ODM, envolvendo comunidades desfavorecidas nos esforços de combate à pobreza, agregando aos saberes locais, o conhecimento científico, tecnológico e inovador.
Foi com base nessas experiências e nas Políticas e Estratégias definidas pelo Governo que o então Ministério da Ciência e Tecnologia, concebeu em 2006 o PNVM com caracter interventivo, visando promover o desenvolvimento comunitário integrado baseado no uso de abordagens de investigação, transferência de tecnologias e inovações, e que aliados aos saberes locais criam-se novos modelos de desenvolvimento integrado e sustentável.
Fundamentação
Moçambique tem demonstrado avanços nos esforços do combate a pobreza, porém ainda persistem algumas comunidades que embora tenham recursos disponíveis apresentam índices de pobreza elevados. O Governo reconhecendo esta realidade tem definido políticas e estratégias de combate a pobreza destacando-se o Programa Quinquenal do Governo (PQG); Plano de Acção para a Redução da Pobreza (PARP) e os planos sectoriais.
O Programa Nacional Vilas do Milénio afigura-se como uma estratégia para acelerar o desenvolvimento rural integrado baseando-se na Investigação, Transferência de Tecnologias e Inovações para as comunidades carenciadas. Este Programa tem o seu foco as comunidades que apresentam maiores índices de pobreza ponderada. Os critérios de aferição do índice de pobreza ponderada têm como base a privação à educação, saneamento, água potável e energia.
A figura abaixo ilustra a incidência da pobreza ponderada em Moçambique onde a cor vermelha representa os distritos com índices acima de 74%. Esses distritos constituem os locais elegíveis para a criação das Vilas do Milénio.
Figura 1: Estatística sobre incidência de Pobreza ponderada em Moçambique.
Enquadramento do Programa Nacional Vilas do Milénio nas Linhas e Estratégias de Desenvolvimento Nacional
A concepção do Programa Nacional Vilas do Milénio teve em consideração os instrumentos de Planificação Estratégica e Operacional do país, nomeadamente:
- Agenda 2025, no capítulo referente a Educação, Ciência e Tecnologia, defende a “criação de Centros de Divulgação Cientifica, inovação e tecnológica em cada distrito, que priorizem inovações tecnológicas nas áreas de agricultura, pecuária, materiais de construção, investigação em saúde);
- Política de Ciência e Tecnologia, preconiza a criação de centros de tecnologias de referência no país com o “…objectivo de apoiar iniciativas de transferência de tecnologias e de inovação tecnológica com impacto no sector produtivo e nas comunidades…”;
- Estratégia da Ciência e Tecnologia no seu Objectivo Estratégico 2 defende a promoção da “inovação de base e a utilização de Ciência & Tecnologia, com abordagem baseada em comunidades pobres e desfavorecidas”;
- Estratégia de Desenvolvimento Rural no objectivo estratégico 3.4.3 que preconiza: “Expansão do Capital Humano, Inovação e Tecnologia”;
- Plano Estratégico para o Desenvolvimento do Sector Agrário (PEDSA 2010-2019) no resultado 1.1. que preconiza “almejar a adoção de tecnologias melhoradas pelos agricultores para o aumento da produtividade agrícola e da produção animal”.
- Plano Estratégico da Educação 2012 – 2016 nos seus objectivos estratégicos que focalizam:
– Acesso e retenção: assegurar a inclusão e equidade;
– Qualidade: melhorar a aprendizagem do aluno.
- Plano Estratégico da Saúde no seu objectivo estratégico que preconiza: “Mudança de paradigmas e aperfeiçoamento das práticas de prevenção, promoção e atenção à saúde”.
Operacionalização do Programa Nacional Vilas do Milénio
O Programa Nacional Vilas do Milénio intervém de forma integrada em cinco (5) pilares fundamentais: Agricultura, Educação, Saúde, Gênero e Água e Saneamento.
Critérios Para a criação das Vilas do Milénio
Conforme nos referimos anteriormente, na Fundamentação, o índice de pobreza ponderada constitue o critério principal usado para a selecção do lugar para a instalação das Vilas do Milénio. Contudo, outros factores tem se tido em consideração tais como:
Existência de potencialidades e recursos locais:
- Localização estratégica da região;
- Associativismo das comunidades;
- Riqueza natural e outros recursos de relevo;
- Idade da população para a organização dos programas.
Pobreza e desvantagens:
- Baixos indicadores de IDH;
- Pouco acesso a água e saneamento;
- Desigualdade de género;
- Prevalência de HIV/SIDA e outras doenças oportunistas;
- Estigmatização do saber local.
Educação e elevado índice de analfabetismo:
- Baixo índice de escolaridade;
- Baixo rácio de raparigas por rapazes nas escolas;
- Inexistência de infra-estruturas de ensino e aprendizagem.
Os critérios acima descritos são conjugados com as potencialidades e oportunidades definidos nos Planos Estratégicos de desenvolvimento das províncias e dos distritos.
Até ao ano 2014 a avaliação dos critérios era feita por uma equipa multidisciplinar do Comité Técnico do Programa Nacional Vilas do Milénio, constituído por representantes do Ministério da Planificação e Desenvolvimento (MPD), Ministério da Agricultura (MINAG), Instituto Nacional de Estatística (INE), Ministério da Saúde (MISAU), Ministério da Educação (MINED), Ministério da Indústria e Comércio (MIC), Ministério da Energia (ME), Ministério da Obras Públicas e Habitação (MOPH), Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental (MICOA), Ministério da Administração Estatal (MAE), Ministério dos Transportes e Comunicações e do Centro de Investigação e Transferência de Tecnologias para o Desenvolvimento Comunitário (CITT).
Vilas do Milénio Estabelecidas
Desde a concepção do Programa Nacional Vilas do Milénio em 2006, a sua implementação resultou na criação de sete (7) Vilas do Milénio, conforme mostram o mapa e tabela seguintes:
Figura 2: Localização das Vilas do Milénio.
Das 7 Vilas do Milénio criadas a nível nacional destacam-se 3, nomeadamente as Vilas do Milénio de Lionde, Malua e de Itoculo, devido aos resultados satisfatórios registados durante a sua implementação.
AVila do Milénio de Chitima apresenta-se com infra-estruturas na fase final de construção, enquanto a de Molumbo está estão em processo inicial de obras.
A Vila do Milénio de Lumbo, não cumpriu com o seu plano devido ao não desembolso dos fundos na totalidade pelo principal financiador.
A Vila do Milénio de Chibuto, a primeira a testar o modelo, não registou grandes sucessos devido a falta de experiência local no modelo desta iniciativa.